Nesta quarta-feira (28), o Supremo Tribunal Federal (STF) realiza a segunda audiência de conciliação sobre o polêmico marco temporal para a demarcação de terras indígenas. A tese do marco temporal sustenta que os direitos indígenas sobre suas terras são limitados às áreas que estavam sob sua posse ou em disputa judicial em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.
A audiência, convocada pelo ministro Gilmar Mendes, ocorre em um contexto de crescente tensão. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), principal entidade de defesa dos direitos indígenas, já criticou duramente a condução das negociações. Na primeira reunião, realizada no início do mês, a Apib ameaçou se retirar do processo, alegando que seus direitos são inegociáveis e que não havia equilíbrio nas discussões. No entanto, a Apib confirmou na última terça-feira (27) que participará da reunião de hoje.
Gilmar Mendes, que é o relator das ações em torno do marco temporal, vem desempenhando um papel central no debate. Além de convocar as audiências de conciliação, o ministro negou o pedido de entidades indígenas para suspender a deliberação do Congresso que validou o marco temporal. Essa decisão gerou insatisfação entre as lideranças indígenas, que consideram o marco um retrocesso em seus direitos.
As audiências de conciliação, previstas para ocorrer até 18 de dezembro deste ano, visam criar um espaço de diálogo, mas também servem para ganhar tempo, permitindo que o Congresso avance com uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que consolidaria o marco temporal na Carta Magna.
O marco temporal é tema de grande controvérsia. Em setembro do ano passado, o STF decidiu contra a aplicação do marco, mas em dezembro, o Congresso Nacional derrubou o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto de lei que o validava. Essa decisão do Congresso foi uma resposta à decisão anterior do Supremo e refletiu as divergências entre o Executivo e Legislativo sobre a questão.
Com a nova rodada de audiências, o futuro dos direitos indígenas permanece incerto, enquanto o STF busca uma solução conciliatória em meio a pressões políticas e sociais.