A partir de 06 de outubro, o público carioca terá acesso à primeira montagem brasileira de “Do outro lado do mar”, texto inédito da aclamada autora salvadorenha Jorgelina Cerritos. Dirigido por Marcio Meirelles, que estreou a peça no começo do ano em Salvador, terra natal dele e dos atores Andrea Elia e Edu Coutinho, o espetáculo aporta no Teatro Poeirinha até o dia 30 de outubro contando ainda com trilha sonora executada ao vivo por Ramon Gonçalves. Montada em países como Cuba, Guatemala, Costa Rica e Estados Unidos, a peça ganhou sua primeira tradução para o português pelas mãos de Edu com a colaboração de Marcio. Montada pela Companhia Teatro dos Novos junto ao Toró Teatro, essa é também a primeira versão no país de uma obra de Jorgelina que, em 2010, conquistou o importante prêmio Casa de las Américas pela dramaturgia deste texto, originalmente intitulado “Al otro lado del mar”.
A trama se desenvolve em uma praia deserta, onde foi instalado um balcão de atendimento de um cartório municipal. Ali, uma funcionária pública dedicada e prestes a se aposentar espera sozinha alguém que apareça precisando do seu trabalho. De um barco chega um homem jovem, sem nome ou sobrenome, que não sabe onde nasceu, em busca da emissão de um documento que comprove a sua existência. Assim surge uma história carregada de poesia que, com aparente simplicidade, provoca uma profunda reflexão sobre o trabalho, a solidão e a identidade. Assista ao teaser do espetáculo: https://youtu.be/LsBalAKiGvg%20 .
“A peça parte do conflito de um jovem personagem que, por não ter certidão de nascimento, oficialmente não existe. Embora pareça absurda, essa situação é realidade para 3 milhões de brasileiros e brasileiras que, sem registro civil, não têm acesso aos direitos mais básicos, como por exemplo o atendimento nos sistemas de saúde e educação”, comenta o ator Edu Coutinho. Ele lembra que, além do sentido literal do documento de identificação, o conceito de identidade é abordado pela obra em seus múltiplos significados e simbologias. “É um texto que capta o público pela beleza, pela poesia, e que aos poucos vai o fazendo pensar sobre os diferentes lugares sociais que as pessoas ocupam ou são levadas a ocupar”, ressalta.
Para Marcio Meirelles, que celebra este ano seus 50 anos de carreira, a montagem é um marco deste seu momento profissional. “Estou envolvido com a peça desde o começo do ano, quando fizemos a transliteração e a reposição na cena presencial desse espetáculo que foi criado para uma cena virtual. Todo esse encontro com Edu, Andrea e equipe já é uma celebração, e estar no Rio é sempre uma celebração – principalmente no Poeirinha, esse teatro que tem uma relação de irmandade com o Teatro Vila Velha (BA) e o Teatro Oficina (SP), entre tantos outros. É um lugar onde eu me encontro como artista, como cidadão, como gente, como ser humano”, entusiasma-se.
O diretor considera ainda que montagem tem muitas nuances, camadas, profundidades. “É uma peça sobre a identidade que você tem e a identidade que você é obrigado a ter. As imposições sociais, as estruturas, o sistema que impõe identidades e o que isso provoca em pessoas diferentes. Uma peça que fala daquelas pessoas que estão à margem e daquelas que fazem parte do sistema de alguma forma, mesmo que dentro do sistema estejam em uma posição marginalizada. Esse é o caso de Dorotéia, que é uma pessoa à margem dentro de um sistema. Já o Pescador é um personagem à margem do sistema, à margem de tudo, ele vive do outro lado do mar. E esse mar é uma infinidade de coisas, uma infinidade de conteúdos, é uma imensa profundidade azul, como o mar é”, reflete.
“Esse é um projeto que nasceu no Teatro Vila Velha, que é uma grande incubadora de jovens atores e atrizes empreendedores. Quem vive da cultura em Salvador e em qualquer lugar, tem que fortalecer a natureza empreendedora. E esse projeto hoje está viajando porque tem o Marcio Meirelles e outras pessoas de referência no cenário teatral baiano que, com a força do empreendedorismo que nasce desde a formação do ator e da atriz, tem viabilizado o deslanchar desse espetáculo”, afirma a atriz Andrea Elia.
Ainda que de El Salvador, de onde é natural, Jorgelina Cerritos também tem sido uma parceira do projeto desde o início. “É muito significativo que a peça tenha a capacidade de dialogar com criadores, criadoras e espectadores da cena internacional, pois me confirma a universalidade e a força da palavra dramática, essa palavra que nos habita e nos fecunda para além das fronteiras. Nada mais satisfatório para mim que descobrir, a princípio, que meu texto e meus personagens estão sendo recebidos com afeto, com proximidade, com a escolha de se expressar por meio deles. Espero que o espectador faça junto conosco a viagem que o texto propõe até o vital, até o humano, até aquilo que costuma ser tão fugaz e efêmero como o teatro e como a vida”, encerra a autora.
SOBRE MARCIO MEIRELLES
Fundador do grupo Avelãz e Avestruz (1976-1989), criador e diretor do Espaço Cultural A Fábrica (1982) e diretor de um dos maiores centros culturais do Brasil – o Teatro Castro Alves (1987-1991). Em 1990 criou juntamente com Chica Carelli o Bando do Teatro Olodum. Revitalizou o Teatro Vila Velha e assumiu a direção artística em 1994. Entre seus trabalhos no teatro, destacam-se: o espetáculo “Ó Pai Ó!”, com o Bando de Teatro Olodum; “Candaces – A Reconstrução do Fogo” (2003), do grupo carioca Companhia dos Comuns, que virou samba enredo do Salgueiro no carnaval de 2007. Também co-dirigiu, com Werner Herzog, o espetáculo “Sonhos de uma Noite de Verão”, no Rio de Janeiro, para a ECO 92. Dirigiu, para o Bando, nova versão da comédia de Shakespeare premiada como melhor espetáculo pelo Prêmio Braskem, em 2006. Foi Secretário de Cultura do Estado da Bahia (2007-2010) e, em junho de 2011, assumiu novamente a direção do Teatro Vila Velha, onde criou em 2013 a Universidade Livre de Teatro Vila Velha. Em 2019, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia. Dirigiu mais de 100 espetáculos, entre realizações no Brasil, na Europa e na África. Em 2022, marca os seus 50 anos de teatro com realizações artísticas em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.
SERVIÇO
“DO OUTRO LADO DO MAR”
Temporada: 06 a 30 de outubro
Quando: 5ª a Domingo
Horários: Quinta a sábado às 21h, Domingo às 19h
Local: Teatro Poeirinha
Endereço: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro
Informações: (21) 2537-8053
Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada)
Link para compra de ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/77135/d/160982/s/1071265 o link que tá errado, mas ele não fica vermelho, rs
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 60 minutos
FICHA TÉCNICA
texto JORGELINA CERRITOS
tradução EDU COUTINHO com a colaboração de MARCIO MEIRELLES
revisão da tradução RITA ROCHA
elenco ANDRÉA ELIA . EDU COUTINHO
cenário . figurino . desenho de luz. encenação MARCIO MEIRELLES
assistência de direção CAIO TERRA . CLARA TROCOLI
colaboração no desenho de luz MARCOS DEDE
música CAIO TERRA . RAMON GONÇALVES
tema da sereia TATO TABORDA
trilha sonora ao vivo RAMON GONÇALVES
produção audiovisual RAFAEL GRILO
operação de vídeo RAFAEL GRILO . PATRÍCIA OLIVEIRA
operação de luz BRUNO ARAGÃO
arte gráfica RAMON GONÇALVES
direção de produção EDU COUTINHO
coordenação de produção PATRÍCIA OLIVEIRA
assistência de produção JORGE ALVES
produção executiva LUCAS NOGUEIRA
assessoria de imprensa MARROM GLACÊ ASSESSORIA
apoio LA BELLE . NOVA DUPLA . VEGAN VEGAN . LA VILLA RESTAURANTE E BAR . LA FIORENTINA . ALFA BAR . BOTECO BELMONTE. FRONTERA . AÇAÍ DA LILI . XIMENINHO . CANTINA DONANNA . CASA DO SARDO . BARTHODOMEU
realização TORÓ TEATRO . COMPANHIA TEATRO DOS NOVOS . TEATRO VILA VELHA