O turismo de base comunitária tem se destacado como uma solução inovadora para promover o desenvolvimento sustentável em terras indígenas da Amazônia. Além de preservar a floresta, esse modelo permite que comunidades indígenas compartilhem seus saberes ancestrais com visitantes, contribuindo para a valorização cultural e a geração de renda.

A experiência dos Shanenawa no Acre
Na Aldeia Shanenawa, localizada no município de Feijó (AC), o turismo começou há três anos e transformou a dinâmica da comunidade. Antes voltados à agricultura de subsistência e ao artesanato, os Shanenawa agora recebem turistas em busca de imersões culturais e espirituais. Entre as principais atividades, destacam-se os rituais com a ayahuasca, uma medicina tradicional que voltou a ser praticada após décadas de proibição.
“Receber visitantes nos fortalece como povo e nos ajuda a transmitir nossa cultura para as próximas gerações,” afirma o cacique Tekavainy Shanenawa. Sua filha Maya, vice-cacique da aldeia, complementa: “Cada vez que compartilhamos nossa medicina, aprendemos mais sobre nós mesmos e fortalecemos nossa identidade.”
Cultura e tradição como alicerces

Para os Shanenawa, o turismo não apenas gera benefícios econômicos, mas também reforça laços culturais. Jovens da aldeia, como Maspã Shanenawa, estão assumindo papéis importantes nos rituais e no trabalho com visitantes, garantindo que a herança ancestral seja preservada.
“Antes, nossa história era contada por outros, muitas vezes de forma distorcida. Agora, podemos compartilhá-la diretamente com quem nos visita,” destaca o cacique Teka.
Parcerias e desafios

Embora o turismo de base comunitária seja uma ferramenta poderosa, ele traz desafios. A busca por parcerias justas e a gestão de resíduos gerados pelos visitantes são questões centrais. Tuwe Shanenawa, um dos guias da aldeia, ressalta a importância de um manejo sustentável: “Queremos soluções que respeitem nossa terra e cultura. O lixo, por exemplo, é um problema que ainda estamos aprendendo a lidar.”
Além disso, o acesso às terras indígenas é limitado pela falta de divulgação e estrutura. Segundo Pedro Gayotto, cofundador de uma empresa parceira, muitos turistas interessados não sabem como chegar às aldeias.
Avanços na regulamentação

Reconhecendo a importância do turismo indígena, o Ministério do Turismo, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, desenvolve o programa Brasil Turismo Responsável. A iniciativa busca capacitar comunidades, mapear atividades turísticas e elaborar planos de visitação para aldeias interessadas.
Atualmente, apenas 39 roteiros turísticos em terras indígenas são regularizados no Brasil. Contudo, mais de 150 aldeias já se cadastraram para integrar o projeto. “Estamos trabalhando para apoiar o desenvolvimento sustentável e ampliar as oportunidades de turismo responsável em terras indígenas,” explica Carolina Fávero, do Ministério do Turismo.
Um modelo que une preservação e inclusão
O turismo de base comunitária nos territórios indígenas, como o da Aldeia Shanenawa, mostra que é possível alinhar preservação ambiental, valorização cultural e desenvolvimento econômico. Para os povos originários, essa prática é mais do que uma fonte de renda; é uma forma de reafirmar sua identidade e transmitir suas histórias de geração em geração.