A primeira noite de desfiles da Série Ouro, a segunda divisão do carnaval carioca, foi marcada por uma mistura de condições climáticas – chuva e calor -, a presença de uma escola estreante e poucos momentos memoráveis. O evento é significativo, pois dele sairá uma escola para o Grupo Especial em 2024. As favoritas Unidos de Padre Miguel, São Clemente e Estácio de Sá mantiveram sua posição, embora nenhum dos três desfiles tenha sido considerado arrebatador.
Depois de um atraso de 26 minutos, enquanto aguardavam a autorização do Corpo de Bombeiros para o início dos desfiles, o Arranco finalmente deu início ao espetáculo. A escola, que retornou à Sapucaí após 10 anos afastada, apresentou o enredo “Zé Espinguela, chão do meu terreiro”, em homenagem ao jornalista, arengueiro e pai de santo. Foi na casa de Zé Espinguela que a escola foi fundada, e ele foi o responsável por criar a primeira disputa entre escolas de samba.
O desfile do Arranco, assinado pelo carnavalesco Antonio Gonzaga, foi seguro, apesar dos poucos recursos e dos estragos causados pelas chuvas recentes no barracão da escola. Além disso, o Arranco teve o privilégio de contar com uma estrangeira à frente de sua bateria, a norte-americana Heather Anchieta, que é filha de brasileira. Outra escola que também apresentou uma estrangeira no comando de sua bateria foi a Lins Imperial, com a tiktoker francesa Katarina Harmony como rainha.
A escola de samba em destaque nesta parte do texto é a que homenageou João Francisco dos Santos, o Madame Satã, com o enredo “Madame Satã, resistir pra existir”, que foi uma reedição de 1990. O icônico carioca, que era nordestino, preto e homossexual, foi retratado como um “bicha malandro” que transformou a Lapa, no centro do Rio, em seu mundo, segundo os carnavalescos. No entanto, a escola enfrentou problemas durante o desfile, pois o segundo carro apresentou falhas e não conseguiu participar. Isso pode acarretar em punições para a agremiação.
Por outro lado, a Vigário Geral, terceira escola a desfilar, conquistou o público com o enredo “A fantástica fábrica da alegria”, que teve uma temática infantil. A comissão de frente se fantasiou de Willy Wonka e Oompa Loompas, enquanto a bateria desfilou vestida de Chapolin Colorado. Houve referências a desenhos animados e seriados ao longo do desfile.
A Estácio de Sá, campeã do Grupo Especial em 1992, foi a próxima escola a se apresentar na Avenida. O presidente Leziário Nascimento fez um discurso forte, dizendo que “o leão ferido torna-se mais assustador”. No entanto, a ala de passistas acabou desfilando com tops, shorts e calcinhas, já que as fantasias não chegaram a tempo. O enredo escolhido foi “São João, São Luís, Maranhão! Acende a fogueira do meu coração”, e a escola contou com a presença de Alcione Carvalho, porta-bandeira da agremiação há 15 anos, e da influenciadora Thaynara OG, embaixadora da Estácio, que desfilou ao lado de outros influenciadores na última alegoria.
A Unidos de Padre Miguel apresentou o enredo “Baião dos mouros”, que retratou a influência árabe, moura e muçulmana no Nordeste do Brasil. A escola se destacou pelo luxo presente nas fantasias, que incluíam peças banhadas a ouro e 800 mil cristais usadas pela rainha Thalita Zampiroli, com custo final de R$ 260 mil. O desfile começou com referências ao mundo árabe e finalizou com alusões ao Nordeste, mas houve um momento de tensão quando um carro alegórico parou em frente ao setor 11, o que interferiu na saída do restante da escola. Porém, a alegoria foi retirada a tempo e o portão foi fechado faltando apenas 15 segundos para que se encerrasse o tempo permitido.
A escola de samba Unidos de Padre Miguel trouxe para o Sambódromo o enredo “Baião dos mouros”, que explorou a influência árabe, moura e muçulmana no Nordeste brasileiro. A agremiação se destacou pelas fantasias luxuosas, que incluíram peças banhadas a ouro e decoradas com 800 mil cristais usadas pela rainha Thalita Zampiroli, com um custo final de R$ 260 mil. O desfile teve início com referências ao mundo árabe e terminou com alusões ao Nordeste. Houve um momento de tensão quando um carro alegórico parou em frente ao setor 11, o que atrapalhou a saída da escola. Entretanto, a alegoria foi removida a tempo e o portão foi fechado com apenas 15 segundos para o fim do tempo permitido.
A São Clemente encerrou a noite de forma irônica e debochada, resgatando sua identidade histórica. A escola de Botafogo propôs uma inversão da viagem realizada pelos portugueses em 1500, com o enredo “O achamento do Velho Mundo”, do carnavalesco Jorge Freitas: os indígenas partem da Praia de Botafogo e remam até Portugal. O humorista Marcelo Adnet, um dos autores do samba-enredo, participou da comissão de frente, interpretando um português que é encontrado e despido pelos nativos.
A falta de recursos foi a característica mais evidente em uma noite de desfiles com performances apenas medianas, da qual não se espera que surja uma escola para subir à elite. Mesmo as favoritas, embora tenham mantido esse status, não conseguiram repetir suas performances dos anos anteriores.