Em 14 países da América Latina e do Caribe, incluindo o Brasil, 75% dos jornalistas relataram conhecer casos de violência de gênero contra colegas ou terem vivenciado tais episódios. Contudo, 57% dos veículos de comunicação ainda não possuem protocolos adequados para prevenir agressões físicas, morais ou assédio sexual, e para orientar ações quando ocorram.
Os dados são provenientes da pesquisa “Meios sem Violência: a urgência de políticas de abordagem e prevenção”, conduzida pela Asociación Civil Comunicación para la Igualdad de Argentina, com apoio da Federação de Jornalistas da América Latina e do Caribe (FEPALC) e da Unesco.
O estudo documentou 96 casos de violência de gênero, sendo o constrangimento psicológico e verbal a forma mais comum, presente em 65,5% dos relatos. Outros tipos de violência incluem assédio sexual (28%), assédio digital (21%), maus-tratos (19%), agressão física (12,5%) e violência econômica (5%).
Quase metade das violências (48%) ocorreu dentro das redações e estúdios, enquanto 27% se deram em redes sociais ou por e-mail. Episódios combinando ambientes físico e virtual corresponderam a 15,5%, e 9,5% ocorreram durante coberturas externas ou viagens de trabalho.
Os agressores se dividem em dois perfis principais: “offline” e “online”. Entre os agressores offline, destacam-se indivíduos em cargos elevados na hierarquia da empresa (49% dos casos), colegas de mesmo nível hierárquico (27%) e homens externos com influência sobre o veículo (9%). Já entre os agressores online, figuram dirigentes governamentais e políticos (31,5%), homens do meio jornalístico (22%) e membros de organizações antigênero (15%). Em ambos os perfis, 54,5% dos agressores não sofreram punições.
A pesquisa ouviu jornalistas de 95 veículos, incluindo mídias digitais, audiovisuais (TV), impressas (jornais e revistas) e sonoras (rádio), entre dezembro do ano passado e março deste ano. Entre os respondentes, 86,1% eram mulheres, 11,1% homens e 2,8% pessoas trans.
Somente 18,5% dos entrevistados afirmaram que seus veículos de comunicação possuem áreas especializadas para lidar com a violência de gênero. Essas áreas são mais comuns em grandes meios de comunicação.
A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que inclui a Agência Brasil, mantém o Comitê de Pró Equidade de Gênero e Raça e participa da Rede de Equidade, promovendo políticas de inclusão e diversidade. A EBC também executa o programa pró-equidade de gênero e raça do governo federal.
A pesquisa utilizou questionários para avaliar a percepção dos jornalistas sobre a violência nas redações e analisou 27 protocolos de violência de gênero na mídia. Como resultado, a Asociación Civil Comunicación para la Igualdad de Argentina propõe um modelo de protocolo que pode servir de referência para prevenir discriminação, assédio e violência no ambiente jornalístico. Todo o material está disponível no site da organização.