Antes de conquistar o coração das crianças como o criador do “Menino Maluquinho”, Ziraldo deixou sua marca como um jornalista intrépido que lutou pela democracia em tempos sombrios. Seu legado de resistência foi lembrado por amigos e familiares durante o velório, ocorrido no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, coincidentemente no Dia do Jornalista.
O cartunista, natural de Caratinga, faleceu aos 91 anos no último sábado (6) por causas naturais. Seus traços atravessaram fronteiras, desafiando a ditadura militar ao denunciar as injustiças e defender a liberdade de expressão.
“Ziraldo foi um dos pilares do jornal O Pasquim, uma verdadeira trincheira de resistência durante os anos de repressão”, recorda Marcelo Auler, jornalista e colega de redação de Ziraldo a partir de 1974. Junto a nomes como Jaguar, Sérgio Cabral e Tarso de Castro, Ziraldo usou o humor ácido e a irreverência para enfrentar a censura e a perseguição do regime.
Miro Teixeira, ex-deputado federal e jornalista, destaca o papel vital de O Pasquim em informar o público sobre as violações dos direitos humanos. “O tabloide conseguia burlar a censura e levar ao conhecimento da população as atrocidades que ocorriam nos porões do regime”, enfatiza.
Além de sua contribuição para a imprensa, Ziraldo deixou um legado de inovação no jornalismo brasileiro. Ricardo Aroeira, cartunista, destaca como Ziraldo influenciou toda uma geração de jornalistas. “Ele mudou a linguagem jornalística, imprimindo humor e leveza em um ambiente marcado pela repressão”, afirma.
Os desafios enfrentados por Ziraldo durante a ditadura deixaram marcas profundas em sua família. Seu irmão mais novo, Gê Pinto, relembra o dia em que Ziraldo foi preso. “Ele sempre teve um compromisso inabalável com a liberdade e a democracia”, destaca.
Para a cineasta Fabrizia Pinto, filha de Ziraldo, seu pai foi um herói que enfrentou o regime militar com coragem e determinação. “Ele lutou com a pena e o papel, salvando o Brasil da escuridão da ditadura”, emociona-se.
A contribuição de Ziraldo para o jornalismo brasileiro foi reconhecida até pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que prometeu homenagens à altura do legado do cartunista. Seja na criação de um centro cultural ou em uma estátua em sua homenagem na icônica praia de Copacabana, o legado de Ziraldo continuará vivo, inspirando as futuras gerações.